O Brasil não nasceu em linha reta.
Brota curvas de maré,
de tambor que chama de volta à origem,
de passos que vieram muito antes do mapa.
Nasceu na pele escura, suor turvo de sal,
memória ancestral, Bahia chacoalhada de axé,
canto indígena que nomeia o vento,
europeus perdidos em memórias e esquecimentos,
Salvador de borogodó,
linha tênue do Brasil que parecia um só.
No samba, Rio de Janeiro,
swing do pandeiro por um ano inteiro,
está na Bahia que canta, no povo que samba,
na margem que reza,
no povo que faz milagre com o pouco que tem.
A vida pulsa e entrega seu sangue e alegria
na cadência do Rio com maestria,
na poeira da feira, na fala arrastada da rua,
antes mesmo da história ser escrita.
Brasília é desenho de futuro,
mas o presente sempre morou longe.
Entre eixos que não quebram,
não cabe o balanço do povo,
a desigualdade que desafina,
o milagre que volta pro compasso,
a esperança que puxa o coro
mesmo sem ter partitura.
Brasília é sinfonia calculada,
e o Brasil é samba escrito no peito,
bate fora da régua.
Por Fernanda Mari Parada
instagram @fernandapoetica